LITERATURA & FILOSOFIA.
- staffquartier
- 1 de jul.
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POST TEMÁTICO
Por CARLOS RUSSO

Queridas quartieres,
Eu gostaria de discorrer um pouco sobre Literatura e Filosofia nos dias de hoje.
Espero que apreciem.
Literatura e filosofia chegam cada qual a um entendimento do mundo e dos seres humanos recorrendo a meios diferentes, na justa medida em que a racionalidade tanto quanto a sensualidade são os caminhos necessários para a compreensão do ser humano.
A literatura, por seu lado, pode instigar nas pessoas uma reflexão profunda revelando tanto o estranhamento do mundo, quanto a ansiedade na busca e na perda de rumo na vida, manifestando detalhes e minúcias da natureza humana. Ela tem a propensão a inquietar e despertar, sendo muito superior a qualquer coisa que a análise semântica pós-moderna e os jogos de palavras possam oferecer. Por outro lado, a filosofia apoia-se na especulação metafísica racional para interpretar e tentar questionar o homem e o mundo.
Logo, há dois tipos básicos de pensadores: um deles é o filósofo, que se apoia na especulação, o outro é o autor literário, que se vale de imagens. Desde a Grécia Antiga, cada qual recorreu a métodos diferentes para proporcionar às gerações futuras o conhecimento a respeito da situação existencial humana, seus dilemas e a própria natureza humana.
Hoje a maré do pensamento pós-moderno surge num crescendo e, diante dessa vertiginosa época de empobrecimento espiritual, as pessoas devem buscar inspiração tanto na literatura, quanto na relação das pessoas com suas comunidades, naquilo que conhecemos sobre o nome de política.
Que rumo a humanidade está seguindo? Serão os seres humanos capazes de preverem o futuro, ou será que um novo conjunto de utopias será estabelecido? Seja qual for a resposta, a literatura pode sem dúvida proporcionar até certo ponto um relato da sociedade na qual as pessoas se veem envolvidas hoje, embora não consigamos mais “nos afogar na orgia literária”, como se propunha Flaubert no século XIX. Teremos de uma forma ou de outra de recorrer ao raciocínio metafísico, à filosofia e à relação comunitária, isto é, à política.
É claro que a literatura não se resume a replicar a realidade. A literatura clássica anglo-americana, o realismo e o naturalismo europeus foram grandes correntes literárias, e desde meados do século XIX até o início do século XX. Os escritos modernistas do século XX se voltaram para o inconsciente, abrindo outro universo literário. Na atualidade contemporânea a racionalidade já não consegue oferecer respostas para o absurdo da sociedade pós-moderna nem para as questões relacionadas ao significado da existência. A própria filosofia afasta-se de seus temas tradicionais e tende a se encolher. Vivemos outro momento que Bauman denomina de “modernidade líquida”.
Nesse ponto cabe a pergunta: será a literatura ainda capaz de refletir a realidade social? É claro que sim: trata-se apenas de uma questão de libertar-se da estrutura conceitual e dos dogmas dos ideologismos, afastar a pregação do politicamente correto, tentar um retorno às tradições mais significativa dos povos, retornar às percepções genuínas do autor e narrar com a voz firme e independente do indivíduo. Mesmo que essa voz seja extremamente fraca ou que desagrade ao ouvinte, trata-se de uma voz verdadeira, e isso tem valor enquanto literatura, pois a literatura é a afirmação que um homem faz de sua própria existência. É relevante que o autor tenha de fato pensamentos próprios a expor, e que não se limite a meramente repetir as afirmações amplamente difundidas pelas autoridades e pela mídia. A independência espiritual do indivíduo é a própria substância da literatura, e responde pela independência e autonomia da literatura.
A literatura é o despertar da consciência do indivíduo no sentido de que o autor se arma com esse conhecimento intuitivo quando observa o mundo humano e analisa a si próprio. Ele infunde seu entendimento lúcido em sua obra. E o entendimento único de um indivíduo em relação ao mundo é inegavelmente o desafio que a existência da entidade individual faz ao seu ambiente existencial. Portanto, o entendimento conquistado numa obra literária sempre traz a marca do autor individual. É precisamente cada uma dessas histórias individuais que faz da literatura algo interessantíssimo e insubstituível.
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