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O MESTRE E A MARGARIDA, DE MIKHAIL BUKGÁKOV

POST TEMÁTICO,

Por CARLOS RUSSO


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Prezadas Quartieres,

 

Para esse mês preparei uma temática ligada ao que eu denomino de "A geração russa sacrificada pelo stalinismo". Trago a vocês (aliás sugestão da Dani C), um romance COLOSSAL, precursor do realismo mágico, que somente surgiria meio século após com G. Rulfo e Gabriel Garcia Marques. Trata-se de "O Mestre e a Margarida", do russo Mikail Bulgákov, escrito nos anos 1930 e somente publicado na íntegra em 1974.

 

“O Mestre e a Margarida”.

O romance trata do combate metafísico entre o bem e o mal, da inocência versus a culpa, do consciente e do inconsciente, da ilusão e da verdade, da liberdade de espírito num mundo autoritário. Da irresponsabilidade daqueles que, embora possuam autoridade, tentam fugir ou negar a realidade dos fatos.

A epígrafe é tirada do “Fausto” de Goethe, que influencia todo o desenvolvimento do roteiro: tal qual a pergunta de Fausto a Mefistófeles: "...mas, quem é você, afinal?” “Sou a parte da força que quer sempre o mal, mas sempre faz o bem".

 

O realismo mágico de Bulgákov nos conduz a diversas possibilidades interpretativas: comédia de humor negro, profunda alegoria místico-religiosa, uma sátira da Rússia soviética. Talvez ele o seja um pouco de cada uma delas. Do que sem dúvida trata é da clara superficialidade das pessoas em geral, principalmente da burocracia e da intelectualidade que escreve apenas para “as massas”.

 

 

A Moscou de 1929 é visitada pelo diabo, com o nome de Woland. Mas como o diabo nunca chega só, acompanha-o um séquito de fieis seguidores, como Koroviev, também chamado de Fagote (tal qual o instrumento musical), um enorme gato negro Bieguemot , o anão Azazello, Abadon e uma mulher em forma de bruxa, Hella.

Woland, o diabo é um visitante estrangeiro, mas um estrangeiro que tudo sabe a respeito dos russos e da Rússia; ele não é um opositor de Deus, chega do nada e pune meio a esmo, coincidentemente acertando na mesquinharia e na covardia humana, que ele mesmo cita como as piores das fraquezas. Alguns insistem em verem em Woland uma metáfora de Stalin, mas a própria viúva do escritor sempre insistiu que o mesmo mantinha uma atitude de fidelidade em relação ao mesmo. Teria sido quiçá, um livro para que fosse lido após sua morte por um leitor especial? O próprio Stalin?

 

Os agentes do demônio Wolland andam por Moscou surpreendendo a população com seus atos, desesperando a burocracia do regime, que tenta explicá-los racionalmente. A polícia tenta prendê-los, mas fracassa repetidamente. Como muitos dos afetados pelo diabo pedem para serem mantido em celas blindadas, a polícia conclui, racionalmente, que foram vítimas de um bando de hipnotizadores, capazes de agir à distância.

 

A mais famosa citação do livro é "os manuscritos não queimam". Constitui uma clara referência à censura e tem cunho autobiográfico, pois os primeiros manuscritos de “O mestre e a Margarida”, mesmo queimados, reviveram em nova versão. Também pode ser lido como a consciência que não pode ser anulada por ação de censores.

O Mestre escrevera um livro que não fora aceito pela crítica. Ele se interna em uma clínica para loucos. Margarita, sua paixão, aceita uma oferta dos assistentes de Wolland que a transforma em uma bruxa, e voa invisível por Moscou sobre uma vassoura. Destrói o apartamento de um dos críticos que destruiu a carreira do Mestre, e voa para o sul.

Margarita volta a Moscou e aceita a proposta de Koroviev, de ser a anfitriã de Woland em um baile, o "baile dos cem reis", ou Noite de Walpúrgis, de Fausto. Ela será recompensada recuperando para a vida o seu amor.

 

O romance também estabelece uma interessante corelação entre Jerusalém, a parúsia cristã e Moscou, a parúsia socialista. São dois capítulos especiais onde, com tintas de um Tolstói, Bulgákov estabelece um realismo puro: no primeiro Wolland narra a entrevista e a condenação de Jesus por Pilatos, por ele presenciada e, ao final, o Mestre escritor liberta Pilatos de seu pesadelo condenatório de um Jesus, “humano, profundamente humano”, através da ficção.

O apóstolo Mateus se encontra com Wolland e lhe diz que Jesus leu o romance do Mestre, e pede que o demônio lhe dê paz. Então o Mestre abandona o hospício para alienados e vai viver com Margarida em um refúgio. A paz lhes é garantida, mas esta paz não significa salvação.


Obs.: Woland ou Voland é uma variante alemã para diabo, utilizada nos originais do Fausto de Goethe.

 


 
 
 

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