MEMORIAL DE AIRES, DE MACHADO DE ASSIS
- staffquartier
- 15 de abr.
- 2 min de leitura
POST TEMÁTICO
por Carlos Russo

Queridas Quatières,
O livro sugerido da vez é o “Memorial de Aires” “Memorial de Aires” foi publicada em 1908, poucos meses antes do falecimento de Machado de Assis. O então viúvo era um homem solitário, bastante doente e desiludido com a vida, revivendo lembranças de um passado feliz compartido em trinta e cinco anos com a esposa, Dona Carolina. Machado aborda em seus últimos trabalhos essencialmente temas existenciais como o amor, a paixão, a solidão, a velhice e a morte, assim como impressões e reflexões sobre o tédio, a ausência de sentido e horizonte da própria vida. Obra semiautobiográfica, não por acaso D. Carmo, esposa do banqueiro Aguiar e o “Memorial de Aires”, assim como o narrador, o conselheiro Marcondes de Aires, possuem as mesmas iniciais de sua defunta esposa e dele mesmo. O período de tempo reportado na obra foram os anos de 1888 e 1889. A presença aparentemente tênue da Abolição no Memorial de Aires tem dado margem à suposição que Machado de Assis, em seu último trabalho, não trata de questões histórico-sociais, mas apenas de aspectos da vida íntima e particular. Isto é absolutamente incorreto. No Memorial de Aires, os tipos sociais representados pelas personagens pertencem todos, assim como o próprio narrador, à elite fluminense do final do Segundo Reinado. Ao incorporar as ideias da elite de seu tempo ao discurso literário, Machado de Assis faz da leitura do romance uma experiência histórica concreta. Para compreender o livro, o leitor tem de aprender a questionar o discurso narrativo, portanto a contestar a ideologia das elites, o que implica não concordar, no caso do Memorial, com a versão oficial da Abolição. Enquanto o conselheiro Aires tenta suprimir o juízo autônomo do leitor, o escritor procura criar um leitor independente e crítico. Por outro lado, quando se esposa o obscurantismo do conselheiro e não a malícia machadiana, contribui-se, de uma forma ou de outra, para a preservação dos privilégios de classe que persistem até hoje, modificados ou não. A leitura de “Memorial de Aires” é uma obra-prima imperdível de ser realizada com uma visão crítica do nosso passado cujas raízes se estendem até o presente. Boa leitura.
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