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POR QUE DOSTOIEVSKI?

Atualizado: 3 de mar.




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Preparamos para esse mês algumas observações sobre nosso Dostoievski, um íntimo dos tormentos da alma! Colocamo-nos à disposição para trocarmos ideias e elucidações sobre a temática.

“Ao lermos Dostoievski deparamo-nos com nossos próprios pensamentos ocultos que não confessaríamos nem a um amigo e nem a nós mesmos”, porque eles contêm uma arrepiante revelação: a revelação das profundezas da consciência, os mistérios do subconsciente.

Nietzsche chamou Dostoievski “meu mestre, com seu profundo e criminoso rosto de santo”, cujos medos consistiam em “um receio profundo e místico, que obriga ao silêncio”. Freud, por seu lado, carregava consigo todas as obras da maturidade do escritor e a cada página colava suas observações. 

Dostoievski conduz seus leitores até conflitos intensos de alma que podem até mesmo serem cruéis. As relações apaixonadas agem de forma hipnotizadora, enfraquecendo nossa própria vontade, pois “com uma volúpia consciente, diabólica, ele retarda o momento em que seremos conquistados, levando-nos ao paroxismo da angústia interior”, sublinha Zweig.

Cada personagem tem um envolvimento tipicamente trágico, expressando-se quase que exclusivamente através da “paixão”. É no desenvolvimento desta “paixão” que surgem as controvérsias que, incessantemente, emulam o indivíduo que anseia interpretar a si mesmo e, ao mesmo tempo, a todos os outros personagens, ao mundo e, até mesmo, a Deus.

Em sua obra encontramos bêbados que o são por desejo de pureza, criminosos por desejo de arrependimento, homens que violam virgens por respeito à inocência, blasfemos por necessidade religiosa. As prostitutas são santas, assassinos arrependem-se e, condenados pelo fórum íntimo mais que pelas leis ou justiça, alcançam a altura de espíritos libertos.

O mundo trágico de Dostoievski é um mundo de dor, onde todos sofrem, quer na doença, quer na miséria, quer nas injustiças sofridas, em decorrência de suas paixões. A sensualidade amorosa, por ser paixão, nunca é um sentimento doce, terno e harmonioso; pelo contrário, muitas vezes ela é uma tentação que, ao invés de conduzir à felicidade, leva à loucura e à ruína da personalidade. 

Sofre-se por tudo isso mas serão as dores e os sofrimentos que resgatarão do mal e do pecado os personagens, libertando-os.

A fé de Dostoievski em Cristo é o referencial em que aportarão todos os seus anseios de máxima humanidade. Dostoievski deseja mostrar exclusivamente, seja conscientemente ou inconscientemente, a ação espiritual de seus personagens. Seu paradigma é a imagem de Cristo,sem dúvida diferente daquela que nós ocidentais dele possuímos, pois a que ele incorpora é profundamente ortodoxa , símbolo da Verdade, que oferece aos mortais a verdadeira Liberdade, uma Liberdade final, que jamais ocorrerá na Terra.

Fiodor Dostoievski era um conservador. Mas um conservador liberal e profundamente humanista, que propugnou pela dignidade do ser humano, pelo amor ao próximo, pela fraternidade universal, expressando como ninguém o sentimento de com-paixão pelos fracos e oprimidos e pela redenção dos degradados sociais. Satirizou e ridicularizou como ninguém as vaidades, a corrupção social e a mediocridade das altas rodas.

Segundo André Gide, Dostoievski “tem sempre qualquer coisa para desagradar a todos os partidos” e na linguagem ainda do século XX, "a todas as correntes ideológicas".


Carlos Russo

Especialista em Literatura Clássica




 
 
 

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